segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cavaleiro-Comendador da Ordem de S. Gregório Magno

O Dr. Abílio Garcia de Carvalho veio para a Póvoa de Varzim em 1919. Uma doente que então recebeu no seu consultório foi a Beata Alexandrina. Mas do que por ela fez, falarei adiante.
Sobre a sua dedicação à causa escutista, escreveu em 1940 a «Ideia Nova»:

Com estes valiosos colaboradores (o Dr. José Luís Ferreira e os P.es Aurélio de Faria, e Meira Veloso) e com o auxílio e trabalho de todos, conseguiu que o «escutismo» poveiro se impusesse, atingindo 100 o número de escutas repartido por três sedes.
Aqui realizou uma brilhante festa escutista, no Estádio de Gomes de Amorim, que ficou memorável e na qual participaram inúmeros filiados de vários pontos do país, honrando-a também com a sua presença o saudoso Arcebispo Primaz, Senhor D. Manuel Vieira de Matos.
Em virtude do muito que trabalhou em prole do escutismo, foi o Dr. Abílio de Carvalho agraciado, pelo Comissário Nacional, com a «Cruz de agradecimento e bons serviços», de ouro, e nomeado Comissário Geral Marítimo.

O Congresso Eucarístico Arquidiocesano da Póvoa de Varzim decorreu entre os dias 2 e 5 de Julho, de quinta a domingo, de 1925. O Dr. Abílio de Carvalho interveio na sexta-feira, no que então já havia da Basílica do Sagrado Coração de Jesus. Penso que se pode dizer que a sua intervenção lhe marcou o futuro. Lançando o seu nome para as páginas da imprensa, abriu-lhe as portas para a participação noutras iniciativas semelhantes e granjeou-lhe acaso fama de orador. Não foi só a comum imprensa poveira ou mesmo nacional (e também espanhola e francesa, como está registado) que fez eco da sua conferência; também a Brotéria a registou com muito aplauso. O tema que desenvolveu foi «A Eucaristia e a Medicina».
Na Brotéria de Setembro, o jesuíta E. Jalhay apresentou uma reportagem do acontecimento com ampla cobertura fotográfica. Sobre o Dr. Abílio de Carvalho escreveu:

No segundo dia, tínhamos a boa sorte de assistir a um conjunto de trabalhos que deveras consolaram todos os congressistas e hão-de colher, estamos certos disso, frutos proveitosíssimos. Foi o primeiro o do distinto médico, Sr. Dr. Abílio de Carvalho, sobre «A Eucaristia e a Medicina», já publicado na imprensa católica a pedido do Presidente do Congresso, que afirmou considerá-lo como um verdadeiro e valioso sermão sobre a Eucaristia. O autor da tese é um jovem ainda, mas com prática de já uns 10 anos de clínica. A sua presença em tal assembleia e o assunto que escolheu para a sua tese tinham despertado o interesse geral dos congressistas. Ali desejaríamos ter visto reunida naquele momento a juventude das nossas Universidades e Colégios, para assistir ao desassombro com que foram feitas afirmações importantíssimas por um autêntico representante das gerações modernas, educadas com Deus e para Deus!

Na publicação escrita desta conferência, encontram-se achegas breves de alguns médicos amigos do autor, como o Dr. Abel Pacheco e o Dr. Henrique Gomes de Araújo. Curiosamente, estes homens muitos anos à frente hão-de dar também o seu contributo no sentido de identificar a doença da Beata de Balasar. Também nela se incluem algumas palavras duma carta do matemático Prof. Doutor Gomes Teixeira.
Voltemos agora ao artigo biográfico da «Ideia Nova»:

Como médico escolar do Liceu de Eça de Queirós, tem desenvolvido uma intensa actividade neste vastíssimo sector da medicina pedagógica, dedicando aos seus alunos uma profícua assistência e procurando sobretudo descobrir neles as más inclinações, antes que ecludam, para lhes corrigir os defeitos natos por uma sábia actuação de ordem moral e psíquica.
É pois um médico escolar competentíssimo, como a moderna pedagogia o exige.
O seu estudo, apresentado ao concurso para médicos escolares dos Liceus, em 1934 – «Desvios Morais dos Alunos sob o ponto de vista genital» – que a revista «Acção Médica» publicou na íntegra, em separata, devia ser lido e meditado por todos os educadores.
Tendo sido incumbido de proferir a «Oração de Sapiência», no ano lectivo de 1934-35, no Liceu de Eça de Queirós, de novo este seu trabalho se apresentou imbuído dos melhores princípios científicos, morais e católicos.

Este interesse pela gente não era novo no Dr. Abílio de Carvalho, ou não tivesse ele sido um dos criadores do escutismo poveiro e do Patronato de S. José.
Desde pelo menos 1933, encontramos o Dr. Abílio de Carvalho activamente empenhado na política. Veja-se alguns parágrafos dum seu discurso pronunciado em 1934 como presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, no Teatro Garrett e Radiodifundido pela Emissora Nacional. Pretende o orador expor algumas linhas de pensamento que fundamentem o corporativismo de Salazar:

As doutrinas demo-liberalistas, tornando o homem senhor absoluto dos seus actos, afastando-o da Corporação, isolando-o das suas ligações naturais, consideravam o homem, um mero número ao lado de outros números, sem impor entre eles um traço de união a fim de congregar os interesses comuns, as aspirações legítimas e as ideias altruístas, cujo expoente mais perfeito é a caridade cristã que o catecismo nos ensina.
Por esta forma, a Pátria portuguesa foi informada durante o último século por essa doutrina materialista dissolvente e pagã, que por estranha condição deificava o homem.
Doutrina que se agarrou ao Estado, corroendo-o de tal forma que hoje há necessidade instante de arrotear de novo a terra portuguesa, para que o sol da Verdade, o sol da Esperança e da Caridade fecunda a inunde de luz, destruindo o joio daninho; e para que, reflectindo-se, vá depois iluminar os espíritos obcecados e inquietos e determine firmemente a confiança na acção e no êxito da empresa.

Não escandalize esta sua adesão ao pensamento de Salazar. Além de que ela era generalizada no tempo, não se podem esquecer os vexames de que ele e a Igreja tinham sido vítimas ao tempo da República. Um homem com uma formação filosófica bem mais alargada e muito mais conhecedor da Europa que o Dr. Abílio de Carvalho, o Pe. Pinho, comungava também de semelhante entusiasmo. Efectivamente este jesuíta escreveu na Botéria, nesse ano de 1934, um longo artigo intitulado «No Estado Novo», onde conclui: «As recentes iniciativas do Governo Português procedem dum pensamento altamente social, a que não parece ter sido estranha a inspiração da Encíclica Quadragesimo Anno (Brotéria, 1934, I. p. 291).
De novo segundo a «Ideia Nova», o Dr. Abílio de Carvalho proferiu em 1935 várias conferências «em Braga, Guimarães, Évora, Niza, etc., focando sempre, de maneira brilhante e convincente, «O Aspecto Social e Cristão da hora presente».

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