Na festa em que Abílio Garcia de Carvalho recebeu as insígnias da Comenda de Cavaleiro da Ordem de S. Gregório Magno usou da palavra, entre outros oradores, o seu colega do CADC Dr. Abel Pacheco. Se não temos o elogio que então fez do homenageado, temos ao menos um longo artigo que depois publicou num jornal poveiro e onde evoca as comuns lutas juvenis. Veja-se um pouco daquela cuidada prosa:
Não admira pois que, no advento da República, a guerra à Igreja fosse preocupação dominante. Era o ódio torvo que mandava e a separação violenta da Igreja do Estado, com desprezo absoluto dos compromissos firmados pela Concordata, a confiscação dos bens da Igreja, a expulsão das ordens religiosas, a laicização do ensino, a instituição das Cultuais e a lei do divórcio, além de outras medidas violentas contra os católicos, mostravam bem, pela pressa com que foram tomadas, que o espírito de seita, aberta e claramente anti-religioso, se preocupava menos com o bem-estar material do povo do que com a ruína da Igreja, que se chegou a profetizar no período de três gerações.
Neste ambiente de hostilidade aos princípios basilares da religião do povo português, nasceu no Porto, sob o manto protector da Igreja Católica, o Centro Académico de Democracia Cristã, cuja divisa era Deus, Família e Pátria. No seu grémio cabiam todos os estudantes católicos, qualquer que fosse o seu ideal político, desde que este não pretendesse absorver o ideal superior do fim espiritual do homem. A César o que é de César, mas a Deus o que é de Deus – tal era o nosso lema.
Os fundadores eram poucos a princípio, mas o número de sócios subiu depressa, apesar de constituir um acto heróico a afirmação pública da fé católica.
Entre os seus sócios fundadores estava Abílio Garcia de Carvalho, que primava pela sua assiduidade verdadeiramente exemplar e pelo estudo consciencioso dos problemas católicos.
Era nosso Director Espiritual o cónego Dr. José Correia da Silva, hoje Ilustre Bispo de Leiria. Exercíamos a nossa actividade em estudos sociais católicos tendo como guia a encíclica de Leão XIII – Rerum Novarum. Reuníamo-nos todas as quartas-feiras à noite na sede da Associação Católica, instalada na rua de Passos Manuel, e discutíamos amplamente as teses previamente anunciadas.
O articulista da «Ideia Nova» concluiu assim a notícia da passagem do Dr. Abílio de Carvalho pelo CADC:
O incêndio da própria sede do C.A.D.C., as perseguições contínuas, mesmo dentro da Escola Médica, onde a polícia, quase diariamente, procurava este reduzido núcleo de rapazes para os prender, tudo enfim levou o Dr. Abílio da Carvalho a voltar, em 1914, a Lisboa, em cuja Faculdade de Medicina se formou em 1916, seguindo no ano imediato para França como oficial médico.
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