segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Presidente da Câmara


O Dr. Abílio de Carvalho esteve à frente da Câmara poveira entre 19 de Fevereiro de 1937 e 13 de Janeiro de 1940. Porque quis que a sua administração fosse transparente, publicou em livro dois relatórios da sua actividade. O primeiro intitulou-o Seis meses de Administração Municipal, o segundo Dois Anos de Administração Municipal.
Sobre a sua actuação como presidente da edilidade poveira, ouçamos este testemunho escrito em 1941:

A sua acção como administrador dos negócios municipais foi fecunda e progressiva. Desenvolveu o turismo, a grande fonte de vida e receita da Póvoa, promovendo visitas dos municípios vizinhos, que se realizaram com enorme afluência e entusiasmo, como referimos. Administrou com inteligência e com largueza de vistas a fazenda municipal, promovendo muitos e notáveis melhoramentos na sede do concelho e das freguesias. Em todos os sectores da actividade municipal foi notável o seu trabalho, mas a obra que mais o impõe à gratidão dos poveiros é, sem dúvida, o abastecimento de água à vila. Foi este o seu maior serviço àquela linda terra, que tantos outros lhe deve.

Até aí vinha de Terroso. A concretização deste velho anseio poveiro teve lugar em finais de Abril de 1938. Veja-se como ele se lhe tinha referido cerca dum ano antes:

Aspiração muito antiga e muito legítima da Póvoa, a resolução de tal problema impunha-se como instante e necessária dentre todos os problemas poveiros; sem água não poderia pensar-se em saneamento; e não poderia também justamente chamar-se à Póvoa uma terra de turismo. Deste modo a Comissão Administrativa da Câmara, onde há dois médicos, procurou logo, após a sua posse, estudar o processo já elaborado pela vereação transacta, a qual havia também aberto concursos para as diferentes empreitadas e inscrito no orçamento do corrente ano verba para o pagamento das primeiras prestações.

O trabalho da edilidade precedente não pode desvalorizar a determinação e ousadia que foram necessárias para levar o projecto à prática.
A dinâmica inovadora e criativa que o Dr. Abílio de Carvalho impôs à gestão municipal não conseguiu silenciar os detractores. Ouçam-se as palavras que, em 1939, lhe dirige a este propósito o amigo Pedro Correia Marques, no prefácio do livro Festas de homenagem a Braga, Barcelos, Guimarães e Famalicão:

Quanto às vilanias que topares pelo teu caminho, lembra-te daque­las palavras que o grande Camilo escreveu a respeito do Conde de Azevedo:
“Era um homem de bem. Para lhe chamarem nas ga­zetas facínora, caipira, besta e ladrão, foi necessário que gover­nasse o distrito de Braga em 1845. Desde que esquivou na poltrona da sua biblioteca o osso sacro aos pontapés da política, volveu a ser, por comum assentimento de todos os partidos, um espírito recto, muito esclarecido e digno de exercer os cargos superiores do Estado.”
Tudo te hão-de chamar, Abílio, tudo farão para te desgostarem do trabalho, para te aborrecerem da obra que estás a realizar com tanto desvelo e tanto amor ao Bem Comum, ao Bem da Nação.
Que fazer?
Trabalhar sempre da mesma forma, prosseguir numa acção que tem tanto de meritória, como deste livro, que vai publicar-se, e do «Seis meses de Administração Municipal», que a Câmara da tua presidência publicou, e do «Política do Estado Novo na Póvoa de Varzim», que tu publicaste, se vê.

Deixou a Câmara quando a sua saúde estava muito abalada e quando o Governo já o indigitara para Governador Civil de Angra do Heroísmo.

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